quarta-feira, 14 de setembro de 2011

14 de setembro foi muito pior do que 11 de setembro

NOVA YORK - Os dados sobre o aumento da pobreza divulgados ontem pelo Censo dos Estados Unidos confirmam que a primeira década do século 21 foi uma década perdida pelo país e que 14 de setembro de 2008 teve um impacto muito mais duradouro sobre o país e o mundo do que 11 de setembro de 2001.

Há exatamente três anos, as autoridades econômicas americanas decidiram não usar dinheiro público para salvar o banco de investimentos Lehman Brothers, na época o quarto maior do país. Tentaram articular um grupos de bancos privados para resolver o problema, sem sucesso

Na abertura do pregão de 15 de setembro de 2008, os preços das ações desabaram nos mercados financeiros do mundo inteiro.

Os investidores temiam o colapso de uma série de empresas financeiras, e os especuladores começaram a atacar as que teriam mais dificuldades para se sustentar. A bola da vez era a AIG, a maior seguradora do mundo, com um rombo muito maior do que o Lehman Brothers.

A AIG foi considerada grande demais para falir. No fim das contas, o governo dos EUA teve de socorrer a seguradora com US$ 182 bilhões para evitar que seguros, fundos de pensão e as mais variadas operações financeiras ficassem sem cobertura.

Com os balanços das empresas financeiras carregados de papéis podres, ninguém sabia qual era o rombo exato nas contas do outros. O resultado foi um colapso do mercado de crédito.

O dinheiro é uma espécie de sangue da economia. Circula por uma rede financeira onde os bancos centrais estão no topo. Eles emprestam dinheiro aos grandes bancos, que irrigam o sistema. Assim, o mercado interbancário ficou paralisado.

Durante uma crise, se uma empresa financeira tem dinheiro em caixa não vai emprestar a quem não sabe se vai pagar. Como ninguém tinha mais garantia, os governos foram obrigados a intervir para assegurar que os empréstimos seriam honrados: se os bancos privados não pagassem, os bancos centrais garantiriam os negócios.

Essa intervenção maciça levou ao inchaço das dívidas públicas dos países ricos, hoje o maior problema da economia internacional, alarmada hoje pelo risco de que a Grécia dê um calote em títulos com vencimento em outubro.

Ontem, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou o crédito de dois importantes bancos franceses, Société Générale e Crédit Agricole. Todo o sistema financeiro da Zona do Euro está sob suspeita, e a Alemanha, maior economia da Europa, reluta em bancar países menos disciplinados, os chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

A dívida pública da Itália chegou a 1,9 trilhão de euros, mais do que toda a riqueza que o país produz num ano menos as importações. Um diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) já admite que a Espanha e a Itália vão precisar de ajuda externa.

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