terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Quem se opõe à revolução está contra o povo"

 Os jovens oficiais que tomaram o poder na Líbia em 1º de setembro de 1969 tinham ideias nacionalistas, socialistas, islâmicas e antiocidentais, além de uma forte influência do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser. Mas não sabiam exatamente onde queriam chegar, observa Dirk Vandewalle no livro Qadhafi’s Libya: 1969-1994.

Ao contrário da vizinha Argélia, que travara uma longa guerra contra a França pela independência, a monarquia da Líbia foi derrubada por um grupo de coronéis sem um movimento, partido ou programa de governo.

A maioria da população líbia manteve a apatia política, com total indiferença em relação ao novo governo revolucionário, interessada apenas nas benesses do petróleo, que passou a ser controlado pelo Estado.

No primeiro ano, era preciso consolidar a revolução. Poucos dias depois do golpe, o coronel Muamar Kadafi, os jovens oficiais e grupos civis criaram o Conselho de Comando da Revolução, órgão supremo da nova ordem, com poderes para indicar o Conselho de Ministros.

Em dezembro de 1969, uma nova constituição oficializava essa supremacia. Dentro de um ano, a maioria dos civis foi afastada do conselho revolucionário, que assumiu supremos poderes executivo, legislativo e judiciário. Quase todos os ministros eram militares e membros da cúpula do novo regime.

Uma campanha anticorrupção expurgou a elite da burocracia ligada ao antigo regime. Por falta de quadros revolucionários, manteve o governo central, registra Vandewalle.

Sob o total controle da cúpula militar, o regime partiu para sua política de mobilização das massas.

Em 12 de junho de 1971, no primeiro aniversário da retirada dos Estados Unidos da base aérea de Wheelus, nascia a União Socialista Árabe. Era um partido no modelo nasserista para levar o espírito revolucionário ao povo.

Para Kadafi, que já se firmara como líder máximo do conselho revolucionário, a USA serviria ao mesmo tempo para mobilizar as massas na defesa do regime, minar a liderança política dos chefes tradicionais e do sistema tribal, e atrair sindicatos e os poucos grupos organizados para o controle do Estado.

Já na primeira convenção nacional do partido, em março e abril de 1972, era evidente a decepção do coronel com a USA. O entusiasmo popular desaparecera rapidamente.

Em suas intervenções na convenção, lançou as bases de sua Terceira Teoria Universal, que está no Livro Verde dos pensamentos do dirigente em queda na Líbia.

Os partidos de oposição e os sindicatos seriam proibidos, anunciou o ditador ao vivo na televisão, porque “quem se opõe à revolução popular se opõe ao povo”.


Por isso, agora, Kadafi acusa estrangeiros e fundamentalistas muçulmanos pela revolta popular. Ao negar o óbvio, o ditador se mostra incapaz de perceber a realidade de que o povo líbio o abandonou. Se estivesse a seu lado, não precisaria ter imposto um regime de terror durante quase 42 anos.

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