sábado, 18 de junho de 2011

China cresceu por investimento e não exportação

Ao contrário do pensamento dominante, o extraordinário crescimento da China, de 10% ao ano na média nos últimos 32 anos, é resultado de programas de investimentos do regime comunista e não das exportações industriais do país, afirma o economista Albert Keidel, ex-subdiretor de setor de Ásia do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, hoje professor da Universidade Georgetown, em Washington.

Na contramão da maioria dos seus colegas, o professor Keidel não está preocupado com a inflação em alta na China e seu impacto sobre a economia mundial. Também não acredita que a moeda chinesa esteja subvalorizada.

"É muita jogada política", disse Keidel em conversa com jornalistas depois de falar no
seminário Brasil e China no Reordenamento das Relações Internacional, promovido pelo Instituto Brasil-China e a Fundação Alexandre Gusmão (Funag), no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. "Nenhum político consegue se eleger hoje nos EUA sem falar mal da China. Foi assim com o Japão nos anos 80."

Para justificar sua conclusão de que não foram as exportações que levaram a China ao maior crescimento da História, declarou que "basta comparar os picos do crescimento chinês com os planos de investimento e com a demanda externa".

A crise, na sua opinião, ajudou a China a realizar mais reformas: "Não houve uma volta do Estado. No final dos anos 90 e início dos 2000, a China vendeu a maioria das empresas estatais".

Com a crise, usou seu programa de incentivo de US$ 600 bilhões para "fazer investimentos públicos na infraestrutura do crescimento", em energia, transportes e telecomunicações. "A resposta é crise foi bem-sucedida. A inflação está alta, mas em termos históricos está num nível bem baixo. O grau de corrupção é aceitável para o nível de renda do país", acrescentou.

No comércio exterior, "o atrito com os EUA é inevitável porque os políticos americanos criticam a China hoje para se manter no poder. O diálogo econômico estratégico aprofundou o relacionamento, o saldo comercial chinês está diminuindo e o iuã se valorizando, mas nenhum político americano pode dizer que a China não é um problema".

Para o economista americano, "o desafio dos EUA é renovar os EUA, mas isso é politicamente impossível".

Em sua palestra, Keidel argumentou que, num mundo em que não será mais o país mais rico, "a segurança nacional dos Estados Unidos depende de instituições multilaterais".

Ele defendeu ainda uma reforma do sistema financeiro internacional que separe bancos comerciais de bancos de investimentos, regulamente os derivativos e outros produtos financeiros de alto risco, e reintroduza o controle dos fluxos de capital de curto prazo, como se fazia no início dos anos 70.

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