quinta-feira, 28 de abril de 2011

Will & Kate: conto de fadas da era eletrônica

Um conto de fadas da era eletrônica vai ao ar amanhã, renovando as esperanças e ilusões de milhões de pessoas que ainda acreditam na magia de príncipes e princesas.

Como jogada de marketing, distrai a atenção dos súditos do Reino Unido da terrível crise econômica que afasta ainda mais os dias gloriosos do império onde o Sol nunca se punha, de uma intervenção militar irresolvida na Líbia e das guerras no Afeganistão e no Iraque.

Em tese, a monarquia se moderniza com um jovem príncipe e a primeira princesa de origem plebeia. Mas faz sentido no século 21.

O histriônico Richard Quest acaba de defender a monarquia na CNN, dizendo que governa a Inglaterra desde  a Invasão Normanda, de Guilherme o Conquistador, em 1066.

Não é bem assim. Houve diversas transições violentas, com guerras, e mudanças de dinastia, a longa guerra civil do século 17 e uma breve experiência republicana sob Oliver Cromwell, o Stalin ou Robespierre da História da Inglaterra.

Em 1066, quando foi implantado esse sistema monárquico, em que a transferência do poder se dá poder hereditariedade, era uma maneira de dar estabilidade, de criar uma regra do jogo.

Não conseguiu acabar com as inevitáveis guerras entre príncipes e outros nobres pretendentes à coroa. Em 1100, Guilherme II, terceiro filho de Guilherme I, o Conquistador, foi morto por uma “flecha perdida” durante uma caçada.

Seu irmão Henrique, que também estava na caçada, tomou a coroa, aproveitando-se da ausência do irmão mais velho, que participava da 1ª Cruzada.

Era outro mundo.

A questão que se coloca é que sentido faz a monarquia hoje. Se é um símbolo de estabilidade ter um(a) chefe de Estado acima das disputas eleitorais, como argumentos os defensores do regime, a família real representa uma casta de privilegiados, a aristocracia baseada na posse da terra.

William e Kate são jovens e moderninhos. Ela não precisou se submeter ao teste de virgindade, como Diana Spencer, a mãe de Will, em 1981. O ventre que geraria os futuros reis da Inglaterra precisava ser imaculado.

Depois disso, Diana levou o amante no porta-malas do carro para dentro de residências reais. Seu segundo filho se parece mais com o capitão e instrutor de equitação da princesa do que com Charles.

"A monarquia", dizia Walter Bagehot, o editor histórico da revista inglesa The Economist, liberal e republicana, "é como a magia. Não se deve jogar muita luz sobre a magia".

Kate vai chegar à igreja de Rolls-Royce e não de carruagem. Menos pompa, mas a mesma riqueza e esnobismo.

O jovem príncipe tem grande chance de se tornar mais popular do que o pai, o desastrado príncipe Charles, mais recatado depois da série de escândalos que minou seu conto de fadas às avessas com Diana. Mas isso importa ou faz diferença?

Cerca de 500 mil funcionários públicos britânicos perderam seus empregos sob cortes de gastos de 83 bilhões de libras nos próximos quatro anos. Com a economia estagnada, tem pouca chance de conseguir empregos no setor privado.

A economia britânica avançou 0,5% no primeiro trimestre de 2011, depois de encolher 0,5% nos últimos três meses de 2010 por causa do inverno rigoroso. Mal retomou o ritmo anterior às nevascas e deve sofrer ainda mais com o impacto dos cortes.

A festa, portanto, é o melhor que o Reino de Elizabeth II tem a oferecer a seus súditos no momento.

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