domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma deve manter política externa

Alguns analistas opinam que a presidente eleita Dilma Rousseff fará um governo mais à esquerda, mas não esperem grandes mudanças na política externa da era Lula, caracterizada pela ambição de ser ator global, contribuindo até mesmo para a paz no Oriente Médio, ênfase na integração sul-americana e nas relações Sul-Sul.

Um dos principais formuladores da política externa de Lula, o assessor especial para política internacional, Marco Aurélio Garcia, coordenou a campanha de Dilma. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é cotado para ficar no cargo. E o ex-secretário-geral do Itamaraty, hoje ministro especial para ações de longo prazo, Samuel Pinheiro Guimarães, é um dos pensadores estratégicos mais respeitados neste governo e no próximo.

Amorim pode ser substituído pelo atual secretário-geral, o embaixador Antônio Patriota, muito ligado ao atual chanceler.

Além da prioridade à integração regional, o novo governo deve investir nas relações com as grandes potências emergentes do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), apesar da diversidade de interesses desses países, ao mesmo tempo em que nutre uma certa desconfiança com as potências do Norte (EUA, Europa e Japão), identificados com o imperialismo na visão da esquerda brasileira. Também deve manter as políticas para a África e o Oriente Médio.

No discurso da vitória, Dilma deixou a entender que o Brasil não pode depender dos mercados mais abalados pela crise para manter sua trajetória de crescimento. Isso não impede as negociações de liberalização comercial do Mercosul com a União Europeia, mas elas exigem muita vontade política por causa dos subsídios agrícolas europeus.

Para os críticos deste terceiro-mundismo do Itamaraty, as exportações de produtos primários em troca de manufaturados tornam a suposta aliança estratégica com a China numa relação neocolonial onde mais uma vez o Brasil ocupa uma posição subalterna.

Apesar da China avançar sobre os mercados para produtos manufaturados brasileiros na América Latina, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala em "guerra cambial", está se referindo à política do banco central dos EUA de aumentar a quantidade de dinheiro em circulação.

O Brasil poderia se aliar aos EUA e à Europa para pressionar a China a valorizar sua moeda. Enquanto o real sobre diante do dólar, o iuã colado ao dólar, aumentando a competitividade das exportações chinesas. Não faz isso para não melindrar a China.

No mundo globalizado, é importante negociar com todos os países. Isso inclui fazer alianças contra políticas danosas aos interesses nacionais, caso do câmbio na China. A crise diminuiu temporariamente a importância dos mercados dos países ricos, mas os EUA e a UE são os maiores mercados do mundo. Não devem ser desprezados.

Uma aliança ideológica em torno dos princípios da democracia liberal também não está no mapa dessa visão de mundo. Sob Lula, o Itamaraty preferiu valorizar as relações com ditaduras como Cuba ou o Irã, talvez para firmar uma posição anti-imperialista a gosto da esquerda que gostaria de uma política econômica menos liberal.

Se a esquerda chegou a ser chamada de última praia do esquerdismo no governo Lula, Dilma pode ir mais para a esquerda em outras áreas.

Em política externa, deve manter o equilíbrio entre o pragmatismo, o legalismo e o multilateralismo, características históricas da ação do Itamaraty, e um terceiro-mundismo que parece anacrônico no mundo globalizado. É considerado à esquerda um sintoma da afirmação e emancipação do Brasil, mas parece mais um complexo de inferioridade de quem ainda não está seguro de seu lugar no mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nelson Franco, uma notícia para você: aqui em cima, já damos como certo o Patriota à frente do Itamaraty. Apague este comentário e deixe em off. Abraço.