sábado, 25 de abril de 2009

CNA não consegue maioria de dois terços

O Congresso Nacional Africano (CNA), partido que acabou com o regime segregacionista do apartheid, não conseguiu a maioria de dois terços na sua quarta vitória eleitoral consecutiva na África do Sul. Para alterar a Constituição, precisava de 66,7% dos votos; obteve 65,9%.

Ao conquistar 11,65 milhões dos 17,68 milhões de votos, o partido de Nelson Mandela, Walter Sisulu e Oliver Tambo elegeu 264 deputados no Parlamento sul-africano, de 400 cadeiras.

Seu líder, Jacob Zuma, será eleito presidente em duas semanas. Por lutar contra a ditadura da minoria branca, passou 10 anos na prisão da ilha de Robben, mas não tem a mesma reputação dos heróis citados acima.

Em segundo lugar, ficou a Aliança Democrática (AD), liderada por Helen Zille, uma branca que lutou contra o aparheid, com 16,7%, seguido pelo Congresso do Povo (Cope, do inglês), uma dissidência do CNA, com 7,4%. A AD ganhou o governo da província do Cabo Ocidental.

Zuma era vice-presidente de Thabo Mbeki, o sucessor de Nelson Mandela. Foi afastado por corrupção em 2005, depois que seu assessor Schabir Shaik foi condenado por fraude, suborno e associação ilícita.

Mesmo assim, por ser mais popular e ter o apoio de setores do partido que cobravam políticas sociais distributivistas, em 18 de dezembro de 2007, Zuma derrotou Mbeki na eleição interna pela liderança do CNA, na convenção nacional em Polokwane, humilhando o então presidente da África do Sul.

A única ameaça à candidatura Zuma era sua coleção de processos por fraude, corrupção, tráfico de influência, suborno e até mesmo estupro. Mas as denúncias foram retiradas sem que fossem julgadas, sob a alegação de que houve pressão política de Mbeki sobre a Procuradoria Geral do país. Os últimos processos foram arquivados em 6 de abril de 2009.

Antes, o poderoso e vingativo Zuma, novo homem forte da África, fez o CNA cassar o mandato de Mbeki em 20 de setembro de 2008 e indicar Kgalema Motlanthe para concluir o mandato presidencial.

Na visão do arcebispo Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, ao colocar o homem e o partido à frente do governo e do Estado, Zuma transformou a África do Sul numa república de bananas. Logo surgiram as comparações com outros movimentos de libertação nacional africanos que viraram líderes de ditaduras de partido único.

Um grupo deixou o CNA para criar o Congresso do Povo, que estreou nestas eleições denunciando a suposta ameaça de um governo Zuma, conseguiu marcar posição mas não arranhou o monopólio de poder do CNA na África do Sul pós-apartheid.

Figura controvertida, Zuma é a esperança de uma ala do CNA que considerava Mbeki um stalinista de mercado, autoritário e distante das necessidades dos sul-africanos pobres e não qualificados, a imensa maioria excluída pelo apartheid. A grande expectativa agora é como será a política social do novo governo.

Jacob Zuma será o primeiro zulu a governar a África do Sul, mas o CNA já teve um líder zulu, Albert Lutuli, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1960. Com 20,5% da população sul-africana, os zulus são o maior grupo étnico do país, seguidos pelos xosas, o povo de Mandela, com 18%.

O país tem 48 milhões de habitantes e um produto interno bruto de US$ 240 bilhões, cerca de 35% do total da África negra ou subsaariana, excluídos os países árabes do Norte do continente, da Mauritânia ao Marrocos. É a grande potência regional da África.

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