terça-feira, 31 de março de 2009

Conexão Irã-Venezuela ameaça América Latina

Se os Estados Unidos ou Israel atacarem o Irã para tentar destruir o programa nuclear iraniano, a aliança da república islâmica com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vai aumentar o risco de atentados terroristas na América Latina.

A advertência é do professor Ely Karmon, pesquisador sênior do Instituto Internacional Contra o Terrorismo de Israel, considerado um dos maiores especialistas internacionais em terrorismo. Karmon fez palestra nesta terça-feira no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.

"O maior objetivo da rede terrorista Al Caeda é realizar grandes ataques nos Estados Unidos", raciocina o pesquisador, "mas a maioria dos ataques foi realizada em países muçulmanos. Para desestabilizar o Iraque, al Caeda matou mais xiitas do que americanos. A maioria dos terroristas suicidas era saudita".

Com os ataques a Madri e a Londres, a rede terrorista se vingou de países que apoiaram as guerras do então presidente americano George W. Bush. Na Espanha, o governo conservador perdeu as eleições de março de 2004 e o novo primeiro-ministro, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, retirou as forças espanholas do Iraque.

Para Ely Karmon, "os grupos que atacaram na Arábia Saudita não eram controlados por Ben Laden. Al Caeda não atacou mais nos EUA nem usou armas de destruição em massa. Sua capacidade tecnológica não é muito grande".

AMEAÇAS FUTURAS
1. Radicalização de muçulmanos que veem necessidade de justiça e vingança.

2. Ressurgimento d'al Caeda dos Talebã no Afeganistão e no Paquistão:
- o governo civil paquistanês não controla o vale do Swat nem as regiões tribais da fronteira entre os dois países;
- parte do serviço secreto militar paquistanês coopera com os jihadistas;
- as armas atômicas são controladas por militares e cientistas implicados na proliferação nuclear;
- eles matam sunitas, xiitas, mohajires...

Em todos os ataques terroristas no Reino Unido, havia gente treinada no Paquistão. Na Espanha e até mesmo em Israel, há paquistaneses envolvidos, observa o pesquisador.

Na ideologia de Ben Laden, "é absolutamente necessário libertar os territórios que um dia foram muçulmanos, inclusive El Andaluz, cerca de 90% da Península Ibérica. Na China, há 70 milhões de muçulmanos na província de Xinjiang. O império muçulmano pegaria um terço da China e um quarto da Rússia".

Como no mundo globalizado, a informação não tem fronteiras, ele mostra uma imagem de Ben Laden ao lado de Che Guevara num ônibus na Bolívia.

3. Coalizão Iraniana: há uma aliança hoje entre o Irã, a Síria, a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá e os fundamentalistas palestinos do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

Essa aliança começa em 1982, quando Israel invadiu o Líbano. Aí, nasceu o Hesbolá. Para esta milícia xiita, "o único eixo fundamental é Teerã-Damasco".

No Iraque, os sunitas apoiados pelo governo alauíta (xiita) da Síria atacam os xiitas apoiados pelo Irã. O Hamas, sunita, colabora com o Hesbolá, que é xiita. Em 1982, o governo sírio massacrou 20 mil extremistas muçulmanos na cidade de Hama. Por isso, argumenta Karmon, "a aliança entre a Síria e o Irã não é ideológica".

O Hamas é filho da Irmandade Muçulmana, o primeiro grupo do chamado islamismo político, fundado em 1928 no Egito por Hassan al-Bana. É o maior grupo de oposição à ditadura militar do presidente Hosni Mubarak, ex-comandante da Força Aérea, que está no poder há 27 anos, superando seus antecessores famosos, Gamal Abdel Nasser e Anwar Sadat.

Motor da coalizão, o Irã tem o Exército, a Guarda Revolucionária e uma ideologia mito clara:
• reunificar e reislamizar a umma, o conjunto de todos os muçulmanos;
• reimpor a charia, a lei ou direito islâmico;
• e libertar os territórios muçulmanos.

Karmon cita três conceitos do líder da Revolução Iraniana de 1979, o aiatolá Ruhollah Khomeini:
1. Os clérigos governam: jamais havia sido aplicado e não é totalmente um governo de religiosos. A Guarda Revolucionária tem cada vez mais influência.
2. Os sunitas e os xiitas devem se unificar: Karmon considera inaplicável. Em Teerã, cita como exemplo, "não há mesquitas sunitas".
3. A revolução deve ser exportada: é dever de todo o muçulmano usar todas as armas possíveis para impor o islamismo.

Ao permitir a ocupação da Embaixada dos EUA em Teerã durante 444 dias, de 4 de novembro de 1979 a 20 de janeiro de 1981, mantendo 52 diplomatas americanos como reféns, algo inédito na história diplomática, o aiatolá Khomeini influenciou e estimulou os muçulmanos radicais.

A aliança Irã-Síria-Hesbolá-Hamas é o que o pesquisador chama de "eixo da desestabilização".

Ele nota que "a maior parte do Iraque está sob o controle de dois partidos xiitas. Bagdá era a capital do Califado", o poderoso império muçulmano da Idade Média, que surge em 632, com a morte do profeta Maomé, até 1258, quando cai o Califado de Bagdá.

"Quando os EUA saírem, vai aumentar a influência do Irã", prevê o pesquisador.

Já o Hesbolá é "um Estado dentro do Estado", descreve Ely Karmon. "Depois de 10 anos de terror, se tornou em em 1992 um partido político aliado à Síria. Desde 2000, virou um exército com 30 mil mísseis fornecidos pelo Irã e pela Síria. Elegeu deputados e tem ministros com poder de veto no governo supostamente pró-ocidental do primeiro-ministro Fouad Siniora."

O processo de paz no Oriente Médio é paralisado por essa coalizão liderada pelo Irã. Karmon alega que o Irã tomou a decisão em 1991, quando foi realizada a Conferência de Madri para lançar o processo de paz no Oriente Médio, depois que uma grande aliança liderada pelos EUA expulsara as forças iraquianas do Kuwait.

"Dois meses depois dos acordos de Oslo, começou o terrorismo suicida palestino", afirma o analista. Quando o primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado, em 5 de novembro de 1995, assumiu o primeiro-ministro Shimon Peres. Uma onda de atentados do Hamas e uma invasão ao Sul do Líbano levaram à vitória, em 1996, do linha dura Benjamin Netanyahu, que acaba com o processo de paz.

Em 2000, o primeiro-ministro Ehud Barak ainda tentou fazer um acordo definitivo com Yasser Arafat, sob mediação do presidente americano, Bill Clinton, em Camp David, nos EUA. O fracasso levou à segunda intifada, a Intifada Al-Acsa, o que Karmon vê como uma vitória do Hamas e dos rejeicionistas.

O Hamas venceu as eleições legislativas de 25 de janeiro de 2006 e chegou a formar o governo, mas acabou entrando em conflito com a Fatah, do presidente palestino, Mahmoud Abbas, e tomando o poder pela força na Faixa de Gaza.

Para o professor israelense, "tudo não passa da ambição hegemônica do Irã, que sonha em se tornar potência mundial". Ele acusa o presidente Ahmadinejad de pertencer a um grupo religioso xiita que espera o "retorno de Mahdi", o 12º Imã do xiismo. "O apocalipse é necessário para a volta do Messias".

Nesta linha revolucionária, o regime iraniano trabalha pela radicalização e islamização do Iraque, do Líbano e da Palestina, com forte impacto no Egito e na Jordânia, os dois únicos países árabes que assinaram acordos de paz com Israel, e risco de subversão das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico. O Yêmen é 50% xiita e o Kuwait, 30%."

Com os mísseis de médio alcance já testados, o Irã é capaz de atingir a Europa.

"Em 2006", afirma o pesquisador, "Ahmadinejad decidiu ampliar a expansão da política externa da África para a América Latina, com o objetivo de combater a influência dos EUA na região".

Isso levou à aliança com o presidente da Venezuela e à abertura de 11 novas embaixadas no subcontinente. "Na Nicarágua, há 65 diplomatas iranianos". O presidente Evo Morales "reorientou o eixo da política de Oriente Médio da Bolívia do Cairo para Teerã".

O terrorista dos fundamentalistas muçulmanos ou jihadismo só cometeu dois atentados terroristas na América, em 1992 e 1994, contra a embaixada de Israel e uma associação cultural israelita, em Buenos Aires. Nos dois casos, as investigações apontaram para o Hesbolá e o Irã, levando a Justiça da Argentina a denunciar altos dirigentes iranianos, como o então presidente Ali Akbar Hachemi Rafsanjani.

"Quando um comandante do Hesbolá morreu, o governo Chávez fez declarações de apoio", acrescenta Karmon. "Há voos semanais regulares entre Caracas e Teerã. Já há campos de treinamento do Hesbolá em Guajira, na Venezuela, e venezuelanos sendo treinados no Líbano. O comandante Darnott, do Movimento Guaicapurano de Libertação Nacional, adotou uma ideologia islamo-cristã de libertação nacional."

Na Argentina, a aliança reúne o Movimento Patriótico Revolucionário Quebracho, bolivarista de esquerda, os árabes xiitas e militares de extrema direita como os ex-coronéis Aldo Rico e Mohamed Alí Seineldín, líderes dos caraspintadas que tentaram derrubar o presidente Raúl Alfonsín. Em 2006, o Quebracho impediu uma manifestação contra o Irã.

"A decisão estratégica do Irã seria política e economicamente legítima", pondera o professor israelense. "Mas esta infraestrutura pode ser usada contra os EUA e outros países da região."

3 comentários:

Leider Lincoln disse...

E você usa um israelense como fonte?
Mas cá entre nós : é uma mentira tão bem vendida que a postarei em meu blogue, como exemplar no metier israelófilo.

Leider Lincoln disse...

Outra: em momento algum do texto, eu repito, em momento algum, o autor disse que a tal conexão desestabilizaria a América Latina ou citou o nome da Venezuela. Em resumo: você, ao tentar manipular seus leitores, mentiu.

Nelson Franco Jobim disse...

Na verdade, meu caro, foi uma palestra longa e não terminei de escrever o texto. Já me dei conta de que o texto não bate com o lide. Já que você insiste, farei isso para não ser acusado injustamente de mentir. Se há algo que prezo é a minha honestidade intelectual. Escrevo e assino em baixo de tudo que está publicado aqui.

Parece-me evidente que os ataques de Chávez contra Israel alimentaram ações antissemitas na Venezuela. Há ativistas pregando uma aliança islamo-socialista que me parece mais islamo-fascista.