quarta-feira, 16 de julho de 2008

China apela cada vez mais ao poder suave

A China já é uma superpotência econômica. Seu extraordinário desenvolvimento econômico nas últimas décadas influencia o mundo inteiro. Mas a China investe também no poder suave, o poder de convencimento, de fazer os outros pensarem como você, na definição do professor Joseph Nye jr., subsecretário de Defesa para Política de Defesa no governo Bill Clinton.

Em palestra sobre A Ascensão Internacional da China realizada no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, no Rio de Janeiro, o professor David Shambaugh, da Universidade George Washington, observou que “há uma expansão do consumo chinês do qual o Brasil e a América Latina se beneficiaram. O preço das commodities aumentou mais de três vezes. Os chineses estão comprando terras e fazendas no Brasil e na Argentina, e pagando com dinheiro vivo.”

Quando um país tem expressão mundial, usa seu poder de persuasão. O poder suave dos chineses está sendo sentido em todo o mundo, observa Shambaugh: “Ontem ouvi de um diplomata brasileiro que este país tem a mesma visão do mundo que o regime chinês: ‘Queremos um mundo multipolar e multilateral, não um mundo desigual. Nossa posição é idêntica à dos chineses’.”

A ajuda internacional que a China dá a outros países não tem precondições. Baseia-se no princípio de não-interferência nos assuntos internos. “Eles dão o dinheiro a suas companhias, que contratam operários chineses e realizam obras de infra-estrutura em países estrangeiros, na África, por exemplo”, nota o professor.

“O dinheiro nunca chega ao país recebedor”, acrescenta. “Ele ganha obras de infra-estrutura, geralmente ligadas à produção e escoamento de produtos que interessem à China.”

Há décadas, o Banco Mundial deixou de financiar obras de infra-estrutura, que na visão liberal do chamado Consenso de Washington caberiam ao setor privado. “Os chineses não divulgam informação a respeito”, observa Shambaugh. “É mais difícil do que obter dados sobre os gastos militares da China.”

Cada vez mais, o país se fortalece como pólo cultural. Há 200 mil estudantes estrangeiros na China, três vezes mais nos últimos três anos. A China está se juntando aos EUA, à Europa, ao Japão e Cingapura como um destino de estudantes no exterior.

Para difundir sua cultura, explica Shambaugh, “o governo chinês cria os Institutos Confúcio. Tem na Cidade do México e em Buenos Aires, logo chegará aqui.

O turismo externo é outro setor em expansão. Três milhões de chineses viajam ao exterior por ano. A Olimpíada de Beijim será um bom teste para o turismo receptivo.

A olimpíada faz parte de uma ofensiva diplomática para apresentar a China como um gigante em ascensão pacífica, interessado na paz, no desenvolvimento e num mundo harmonioso ou em equilíbrio, dentro da tradição filosófica chinesa.

Já se fala hoje num Consenso de Beijim, modernização autocrática com economia de mercado, em contraposição ao Consenso de Washington, que incluía abertura comercial, liberalização, privatização, taxas de juros reais positivas e equilíbrio das contas públicas.

Com base no princípio de não-ingerência nos assuntos internos de outros países, a China não impõe condições políticas ou econômicas para conceder ajuda. Isso reforça a posição de ditaduras africanas e asiáticas isoladas pelo Ocidente por violar os direitos humanos, como Mianmar ou Sudão.

Uma pesquisa do Conselho de Relações Exteriores de Chicago revela que, na Ásia, o poder suave dos EUA ainda é maior do que o chinês. Os outros países da região não invejam o regime político nem a cultura da China contemporânea. Gostam da cultura tradicional chinesa.

“Não há marcas chinesas, nem atletas famosos, nem chineses ganhadores do Prêmio Nobel. O poder suave chinês é menor no Japão e na Coréia do Sul, no Norte da Ásia, do que na Indonésia e do Vietnã, no Sudeste Asiático”, comentou o professor americano.

Em poderio militar, a China ainda não é uma superpotência no sentido de que não pode projetar o seu poder pelo mundo inteiro. Mas tem armas nucleares, mísseis e faz guerra cibernética.

Os chineses já invadiram o sistema de computadores do governo alemão e do Ministério do Exterior britânico, mas não conseguiram penetrar no do Pentágono, afirma Shambaugh.

A China não tem capacidade de reabastecer seus aviões de combate no ar, não tem bases nem soldados estacionados no exterior, a não ser em operações de paz da ONU. Não tem uma Marinha para operar em alto-mar.

Mas as Forças Armadas chinesas têm se modernizado consistentemente, dobrando o orçamento de defesa a cada quatro anos. Em 2007, a China teria gasto um pouco menos de US$ 100 bilhões com defesa.

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