quarta-feira, 19 de março de 2008

Bush defende invasão do Iraque, que faz cinco anos

Em discurso no Departamento da Defesa, o presidente George Walker Bush está defendendo sua decisão de invadir o Iraque e derrubar o ditador Saddam Hussein, há cinco anos, e insistindo em que os Estados Unidos "podem e precisam" ganhar.

Depois de listar as inúmeras atrocidades cometidas pela ditadura de Saddam, Bush argumentou que os Estados Unidos ficaram mais seguros por causa da guerra, como se a infiltração da rede terrorista Al Caeda no Iraque não fosse conseqüência da intervenção americana.

O presidente dos Estados Unidos atribuiu a redução da violência no Iraque desde junho do ano passado à sua estratégia de aumentar em 30 mil soldados o contingente americano no país, que é hoje de cerca de 130 mil homens. Mas isso se deve ao cessar-fogo negociado com o aiatolá rebelde Muktada al-Sader e à proliferação de milícias sunitas que resolveram combater Al Caeda como uma ameaça maior do que os EUA.

Há uma segregação que divide árabes xiitas de árabes sunitas em áreas diferentes, praticamente isolando um grupo religioso do outro.

Bush admitiu que há hoje 90 mil iraquianos "defendendo suas comunidades", mas não reconheceu que na verdade são milicianos sem maior lealdade à idéia de uma união nacional. Afirmou que eles estão lutando pela liberdade, apontando um caminho para o futuro do Oriente Médio.

"Como os adversários da guerra não podem mais alegar que estamos perdendo a guerra", argumenta Bush, "dizem agora que o custo da guerra é caro demais". Está se referindo ao livro A Guerra de Três Trilhões de Dólares, do economista Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

Se os EUA não vencerem no Iraque, acrescenta Bush, a rede Al Caeda terá uma nova base de onde lançar seus ataques contra os EUA e outros países. Na verdade, o terrorismo dos fundamentalistas muçulmanos recuou em Bagdá e na província de Diala, mas está ativo em Mossul, na região curda do Norte do Iraque, de onde se infiltra em outros países do Oriente Médio, como na batalha que os jihadistas travaram contra o Exército do Líbano no campo de refugiados palestinos de Naher al-Barad na segunda maior cidade libanesa.

O presidente americano afirma que os EUA criaram no Iraque uma democracia que será exemplo na região. Mas essa é uma meia-verdade. Se é evidente que os iraquianos têm maior liberdade de expressão e elegeram os deputados da Assembléia Nacional, o colapso do Estado deixou o país numa situação de total anarquia em que não há segurança.

Um garoto entrevistado pela TV pública britânica BBC na série de reportagens sobre os cinco anos da guerra disse que desde 2003 não pode sair de casa para jogar futebol.

Mais de 4 mil americanos foram mortos no Iraque, entre civis e militares, admitiu o presidente Bush. Pelo menos 82.249 civis iraquianos foram comprovadamente mortos pela guerra, informa o site Iraq Body Count. Outras estimativas falam em centenas de milhares de mortos.

Cerca de 4 milhões de iraquianos, 14% da população, fugiram de suas casas.

No final do discurso, Bush agradeceu aos militares e garantiu que essa guerra "nobre, justa e necessária" só pode terminar com a vitória dos EUA.

Quando a guerra começou, tinha o apoio de 68% do povo americano. Hoje, 66% são contra e 61% querem que o presidente a ser eleito em 4 de novembro retire das tropas dos EUA do Iraque em meses depois da posse.

A maioria dos americanos acredita que a guerra prejudicou a economia dos EUA. Certamente teve um impacto sobre o preço do petróleo, que estava em torno de US$ 30 o barril e chegou a US$ 100, e também sobre o déficit público federal, drenando recursos que poderiam ser usados para estimular a maior economia do mundo, que enfrenta uma série crise, talvez a mais grave desde a Grande Depressão (1929-39).

Além disso, a Guerra do Iraque abalou o prestígio dos EUA no mundo, tornou-se um poderoso instrumento de propaganda e recrutamento para grupos terroristas muçulmanos, fortaleceu a revolução islâmica no Irã e provocou uma profunda divisão entre os EUA e seus aliados europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um dos pilares da ordem internacional do pós-guerra. E o verdadeiro inimigo que atacou os EUA em 11 de setembro, Ossama ben Laden, continua solto.

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