quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Terrorista suicida mata Benazir Bhuto


A primeira mulher a governar um país muçulmano, Benazir Bhutto, ex-primeira-ministra e atual líder da oposição paquistanesa, foi assassinada nesta quinta-feira, 27 de dezembro de 2007, em Rawalpindi, aos 54 anos, por um terrorista suicida.

O ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, pediu calma à população. Embora o caos político seja de seu interesse, as maiores suspeitas recaem sobre os jihadistas ligados à rede terrorista Al Caeda.

No final de um comício para as eleições de 8 de janeiro, Benazir, a política mais popular do país, líder do Partido Popular Paquistanês, fundado por seu pai, foi atacada a tiros por um homem que em seguida detonou explosivos amarrados a seu corpo.

Benazir saiu do comício em Rawalpindi, nos arredores da capital paquistanesa, em carro aberto. Saiu pelo teto solar e começou a acenar para a multidão de seguidores, totalmente exposta.

O assassino chegou de moto, e atirou no peito e no pescoço da ex-primeira-ministra, que morreu no hospital uma hora depois. Em seguida, o terrorista se explodiu. Outras 22 pessoas morreram no atentado.

Como o outro líder da oposição, o ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, deposto em 1999 pelo general Musharraf, defende o boicote às eleições, a transição para a democracia e o próprio pleito estão ameaçados.

Isso gera um forte risco de instabilidade no Paquistão, de 160 milhões de habitantes, sendo 65 milhões em pobreza absoluta. É único país muçulmano com armas atômicas, onde estariam refugiados Ossama ben Laden, a cúpula d'Al Caeda e parte dos Talebã, com o apoio das tribos que vivem na fronteira afegã-paquistanesa.

Benazir foi eleita primeira-ministra pela primeira vez em 1988, aos 35 anos. Deposta em 1990, foi reeleita em 1993 e afastada de novo em 1996, acusada de corrupção. Ela denunciou os processos como manobras políticas, mas preferiu o exílio em 1999 a enfrentar a Justiça.

Quando voltou ao Paquistão, em outubro de 2007, depois de oito anos, ela foi alvo de outro atentado terrorista suicida. Na ocasião, 136 pessoas morreram mas Benazir saiu ilesa.

Além de ser mulher e secularista, Benazir era a maior aliada dos Estados Unidos na política paquistanesa, o que a tornou em alvo preferencial dos fundamentalistas muçulmanos que sonham em tomar o poder no único país muçulmano com armas nucleares.

Antes de voltar ao Paquistão, ela negociou um acordo intermediado pelos EUA com o ditador Pervez Musharraf. O general, agora reformado, ficaria na presidência e Benazir seria chefe de governo outra vez.

Era a estratégia americana para democratizar o Paquistão. Mas a Suprema Corte rejeitou a reeleição de Musharraf e o ditador decretou estado de emergência, em 3 de novembro, empurrando Benazir para a oposição.

A relação entre os dois ficou inconciliável, pelo menos até as eleições. Depois, se Benazir ganhasse, como esperado, a negociação com Musharraf seria inevitável.

É mais uma tragédia para a principal dinastia política do Paquistão. Seu pai, Zulfikar Ali Bhutto, o primeiro primeiro-ministro eleito da História do Paquistão, foi enforcado em 1979 pela ditadura do general Zia ul-Haq, aliado dos EUA durante a Guerra Fria.

Zia morreu num acidente aéreo suspeito em 1988, quando o líder soviético Mikhail Gorbachev e o presidente americano Ronald Reagan já tinham negociado o fim da Guerra Fria. A União Soviética estava saindo derrotada do Afeganistão, onde entrara em 26 de dezembro de 1979.

Em 1988, com apenas 35 anos, Benazir Bhutto seria primeira-ministra pela primeira vez.

Benazir Bhutto herdou o PPP e o destino trágico do pai.

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