quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Populista acusado de estupro e corrupção lidera CNA

Num verdadeiro terremoto político na África do Sul, o presidente Thabo Mbeki perdeu a eleição para a liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido que derrotou o regime segregacionista do apartheid. O vencedor é o ex-vice-presidente Jacob Zuma, um populista denunciado por estupro e corrupção que pode agora ser eleito presidente do país em 2009.

Zuma recebeu 2.329 votos, contra 1.505 para Mbeki, sucessor de Nelson Mandela desde 1999. Ambos têm 65 anos e fazem parte do grupo de líderes do CNA que viveu no exílio para fugir do regime racista branco que dominou a África do Sul até 1994.

Desde o fim do apartheid, a África do Sul entrou numa era de prosperidade e relativa paz social, manchada pelos altos índices de criminalidade. Mas a maioria da população negra ainda vive miseravelmente. Milhões ainda esperam as casas, as terras, os empregos e os serviços públicos que lhes foram negados pela segregação racial.

Mbeki é considerado um ex-stalinista convertido ao fundamentalismo de mercado. Faltou-lhe sensibilidade social para atender aos anseios dos excluídos. Refratário às críticas e distante das bases populares do CNA, o presidente recebeu nesta terça-feira o veredito das urnas da convenção partidária. Não fará seu sucessor, que provavelmente será seu maior inimigo político.

Sua derrota é uma vitória da democracia no país mais importante da África. Ao contrário da imensa maioria dos países do continente, houve uma disputa real, ainda que no seio do partido do governo. Afinal, o CNA tem a legitimidade de quase um século de luta contra a opressiva dominação da maioria branca.

Mbeki é um filho da elite negra sul-africana educada no exílio para assumir o poder na era pós-apartheid.

Zuma é zulu, maior etnia da África do Sul. Não recebeu educação formal. Foi um dos líderes do braço armado do CNA, Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação), no exílio. Foi afastado da vice-presidência sul-africana por Mbeki quando um de seus assessores foi condenado por oferecer US$ 70 mil de suborno a investigadores de um escândalo de venda de armas que implicava seu chefe.

No ano passado, Zuma foi processado por estuprar uma amiga de sua família. Durante o julgamento, declarou ter mantido relações sexuais sem camisinha com uma aidética e em seguida tomado banho na certeza de que isso o protegeria.

Suscitou, assim, outra questão de importância fundamental na África do Sul, a relutância das autoridades em admitir que a causa da aids é o vírus da imunodeficiência humana (HIV). O país tem a maior incidência de aids do mundo.

Os partidários de Zuma alegam que as acusações são manobras políticas para afastá-lo da luta pelo poder. Mas ele pode ser forçado a sair e não concorrer à presidência, se a Procuradoria Nacional reapresentar as denúncias contra ele.

Cresce, portanto, a importância de seu vice no CNA, o ex-líder sindical Kgalema Motlanthe.

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