quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Comunicação está na vanguarda da produção

Os meios de comunicação estão na vanguarda dos meios de produção. Essa foi uma das principais proposições do sociólogo canadense Marshall McLuhan, o papa das comunicações, um dos grandes pensadores da segunda metade do século 21, hoje praticamente esquecido.

Seu argumento é simples: são os meios de comunicação que organizam a percepção humana, a sociedade e o modo de produção, como parece evidente na atual revolução da informática.

O livro, argumenta McLuhan, foi o primeiro bem de consumo uniformemente reproduzível. A imprensa de Gutenberg, de 1455, foi a primeira linha de montagem. O livro foi assim o primeiro bem manufaturado, 300 anos antes da Revolução Industrial na Inglaterra, que criaria a era da máquina a vapor, da locomotiva e do navio a vapor, permitindo uma acumulação de riqueza sem precedentes.

Com a tecnologia da imprensa, foi possível armazenar uma quantidade formidável de conhecimentos e levá-los para casa, um forte impulso ao individualismo e à visão racionalista e antropocêntrica do humanismo da Idade Moderna. Ela popularizou o mapa, instrumento essencial da expansão colonial marítima européia, mola propulsora da Revolução Comercial (1400-1700) e do capitalismo.

Menos de um século depois de Gutenberg publicar sua bíblia, o monge alemão Martinho Lutero traduziu-a do latim para sua língua, em 1534, lançando as bases da Reforma da Igreja. Um dos princípios fundamentais do protestantismo luterano é: “A Bíblia é a única norma da fé”.

Os cristãos não precisavam mais de intermediários para falar com Deus. Qualquer imigrante perdido no Oeste selvagem nos Estados Unidos tinha esse canal direto de comunicação com a fé.

A imprensa criou as grandes burocracias que levaram à Revolução Militar (1550-70), garantia de quatro séculos de dominação européia sobre o planeta, à formação dos Estados Nacionais e à revolução das idéias liberais, o Iluminismo, no século 18. Reprogramou o mundo, gerando o que McLuhan chamou de A Galáxia de Gutenberg, seu livro mais importante.

Agora, chegou a vez da tecnologia da informação redesenhar nossas vidas e o planeta como um todo. É um processo que começou há muito, com a descoberta da eletricidade, motor da Segunda Revolução Industrial.

Há uma frase de Benjamin Franklin, um dos fundadores dos Estados Unidos, que revela como o mundo mudou: “Há meses não recebemos notícias do nosso embaixador em Paris”. Quando Thomas Jefferson, futuro presidente dos EUA, representava a jovem república americana na França (1784-89), o único meio de comunicação à distancia era o correio.

Isso mudou quando Samuel Morse inventou o telégrafo, em 1839. Começava a era da comunicação instantânea. O jornal moderno, um mosaico de despachos telegráficos, é um cruzamento da imprensa com o telégrafo.

GALÁXIA DE MARCONI
A ciência avançava rapidamente. Antes de Morse, em 1831, o inglês Michael Faraday descobriu a indução magnética. Outro inglês, James Maxwell, descobriu as ondas eletromagnéticas, que viajam na velocidade da luz, 300 mil quilômetros por segundo.

Em 1880, o americano Thomas Alva Edison inventou a lâmpada, tirando a humanidade do escuro, e o alemão Heinrich Hertz comprovou na prática a existência das ondas eletromagnéticas.

O marco fundador da nova galáxia da informação é, para McLuhan, a criação pelo italiano Guglielmo Marconi, em 1896, do telégrafo sem fio, mais conhecido como rádio. É o início da era das telecomunicações sem fio. O automóvel, outro cruzamento das tecnologias mecânica e elétrica, é da mesma época.

A acumulação de riqueza sem precedentes a partir da Revolução Industrial criou o paradoxo da miséria em meio da abundância, tema central do pensamento de Karl Marx e de sua utopia igualitária: o comunismo.

McLuhan discorda de Marx ao alegar que não é a economia que move a História mas revoluções tecnológicas estimuladas pela luta pela supremacia militar. Não basta ser mais rico. É preciso ter a tecnologia militar mais avançada. Hoje essas duas coisas coincidem. Nem sempre foi assim.

Sob o comando de Guilherme o Conquistador, com apenas 200 cavaleiros, os normandos conquistaram a Inglaterra na Batalha de Hastings, em 1066, derrotando mais de 2 mil soldados leais ao rei Haroldo. Tinham a tecnologia militar dominante na Idade Média – o cavalo – , que permitiu a Gengis Khan e seus sucessores construir o maior império terrestre jamais visto: o Império Mongol.

Marx lançou o Manifesto Comunista em 1848, numa época de escassa mobilidade social, afirmando os conceitos de classe social e luta de classes. Extrapolou sua conclusão ao reduzir a História da Humanidade à história da luta de classes. É uma visão simplista e, na minha opinião, superada.

Como disse McLuhan, não pode haver luta de classes numa era de informação instantânea em que jovens nerds ficam bilionários criando empresas no fundo da garagem, como Apple, Microsoft, Yahoo, Google, Skype e tantas outras.

Não se pode negar que há conflitos de interesses entre as diferentes classes sociais. Mas, na Era da Informação e da economia baseada no conhecimento, o ser humano não está mais aprisionado a uma estrutura rígida de classes. Não é a luta de classes que move a História.

Foi a revolução silenciosa do computador e do microchip que derrotaram a União Soviética sem disparar um tiro. Em 1978, um general do Estado-Maior alertou o dirigente máximo Leonid Brejnev (1964-82): “Precisamos superar os EUA em computadores”. Brejnev sabia que era impossível.

Mikhail Gorbachev (1985-91) tentou reformar o sistema socialista, mas a burocracia comunista o impediu.

O marxismo sobrevive como a mais poderosa crítica do sistema capitalista. Mas seu modelo de organização social experimentado no século 20 foi para a lata de lixo da História.

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