quarta-feira, 27 de junho de 2007

Gordon Brown já é primeiro-ministro britânico

Depois de dez anos de espera e de uma luta surda pelo poder com primeiro-ministro que sai, Tony Blair, Gordon Brown assumiu hoje a chefia do governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Depois de pedir autorização oficial à rainha Elizabeth II para formar o próximo Governo de Sua Majestade, entrou na residência oficial de 10e Downing Street prometendo "trabalhar pela mudança".

Não foi uma entrada triunfal como a de Blair chegou em 2 de maio de 1997, com o povo nas ruas festejando a derrota dos conservadores. Com apenas 43 anos, levava o Partido Trabalhista à vitória depois de 18 anos de thatcherismo. Era o mais jovem primeiro-ministro britânico desde Lorde Liverpool, em 1812, na época das guerras napoleônicas.

Blair deixa como legado uma economia estável e em crescimento sustentado, graças ao ex-ministro das Finanças e agora primeiro-ministro Gordon Brown, uma certa recuperação dos serviços públicos e a paz na Irlanda do Norte, acabando com um conflito de 800 anos entre Inglaterra e Irlanda.

Em 11 de setembro de 2001, percebendo a importância dos atentados terroristas contra Nova Iorque e Washington, tratou de consolidar a "relação especial" com os Estados Unidos, dando apoio incondicional ao presidente George W. Bush. Sua "herança maldita" será a guerra no Iraque, causa de sua queda prematura.

Na sua terceira vitória eleitoral consecutiva, algo inédito para um líder trabalhista britânico, Blair perdeu mais de 100 deputados na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico por causa da rejeição da opinião pública à intervenção no Iraque. Desde então, sua queda está anunciada. Ele teve o direito de marcar a data.

Brown, preterido na disputa pela liderança do partido depois da morte de John Smith, em 1994, é mais sizudo e mais carruncudo, menos midiático. Sorri pouco. Fala pouco. É frio e calculista. Como ministro das Finanças de Blair, foi um excelente gestor do mais longo período de expansão da história econômica da Grã-Bretanha. Agora, é a sua vez.

A exemplo da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-90), Blair adotou um estilo de governo quase presidencialista, centralizado nele. Sempre tomou decisões com um pequeno grupo do qual participavam assessores sem mandato eletivo, como seu diretor de comunicações, Alastair Campbell, a "face antipática" do governo Blair.

Campbell era tão influente que caiu depois do suicídio de um cientista do Ministério da Defesa que dissera em sigilo à BBC que a alegação de que Saddam Hussein poderia contra-atacar com armas de destruição em massa em 45 minutos era uma fabricada pelo governo. Nenhum cientista previra essa possibilidade.

Se era responsável, em primeiro lugar, o primeiro-ministro sabia e concordou com a mentira apresentada ao Parlamento e à opinião pública; em segundo lugar, Campbell tinha poder demais. Desde o início, o governo Blair notabilizou-se por manipular as notícias, dando um 'efeito especial' (spin), a tal ponto que no dia 11 de setembro de 2001 uma assessora do Ministério do Meio Ambiente, Transportes e Cidades sugeriu que era "um bom dia para divulgarmos notícias que quisermos enterrar", debaixo das Torres Gêmeas do World Trade Center, com quase mil cadáveres. Pegou mal.

No fim, o governo Blair foi vítima do seu próprio veneno.

Gordon Brown prometeu governar com todo o gabinete e o Parlamento, fortalecer as instituições e fazer um governo menos personalista. Blair virou uma celebridade midiática internacional ao chamar Lady Diana, a Princesa de Gales, de "princesa do povo", no dia de sua morte. Teria sido uma idéia de Campbell. Brown sabe que não tem a mesma naturalidade e desenvoltura diante das câmeras.

Sintomaticamente, o último encontro de Blair como primeiro-ministro foi com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, um astro de Hollywood. Os repórteres brincaram que Blair poderia dizer "Hasta la vista, baby!" (Até a vista, baby!), uma das frases do Exterminador do Futuro, papel que celebrizou Arnie no cinema, mas não "I'll be back!" (Eu voltarei!)

Sua carreira de deputado do Parlamento Britânico também chegou ao fim. Blair renunciou ao mandato para se dedicar à função de enviado especial do Quarteto (EUA, Nações Unidas, União Européia e Rússia) para negociar a paz no Oriente Médio.

Já há comentaristas árabes protestando, por causa da participação de Blair na ocupação do Iraque. Mas se houvesse um mínimo de concordância no Oriente Médio, a paz não estaria tão distante.

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