sábado, 27 de janeiro de 2007

ONU propõe soberania sob controle para o Kossovo

Sem falar em independência, o enviado especial das Nações Unidas para a antiga província iugoslava do Kossovo, Martti Ahtisaari, propôs ontem ao Grupo de Contato (Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Rússia) a soberania do Kossovo sob controle internacional, com garantias de ampla autonomia à minoria sérvia.

Os principais pontos da proposta são:
1. O Kossovo continuará indefinidamente a ser patrulhada por uma força internacional, não só para garantir sua soberania, mas também para proteger a minoria sérvia, hoje de cerca de 100 mil pessoas numa população em torno de 2 milhões.
2. A tutela internacional será exercida por um representante da União Européia (UE).
3. O Kossovo poderá firmar acordos internacionais e participar de organizações internacionais como a ONU, o que o aproxima das características de país independente.
4. Será criada uma força militar do Kossovo, com 2,5 mil soldados e armamento leve.
5. Serão criados sete municípios sérvios com ampla autonomia.
6. O legado histórico e cultural sérvio na província será protegido.

Foi na província sérvia do Kossovo que o então líder do Partido Comunista, Slobodan Milosevic, lançou, em 1987, a semente da destruição da Iugoslávia, ao declarar que os sérvios não seriam mais "humilhados". Em 1989, Milosevic cassou a autonomia da província, submetendo-a à Sérvia.

No início dos anos 90, o conflito no Kossovo foi ofuscado pelas guerras de independência da Eslovênia, da Croácia e especialmente da Bósnia-Herzegovina, que mataram 250 mil iugoslavos. Depois da intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os EUA obrigaram os presidente da Bósnia-Herzegovina, Alija Izetbegovic; da Croácia, Franjo Tudjman; e da Sérvia, Slobodan Milosevic; a assinar o acordo de paz de Dayton, em 1995.

Faltava o Kossovo, onde a tensão aumentava por causa da marginalização da maioria albanesa. Em fevereiro de 1996, nasce o Exército de Libertação do Kossovo. A repressão sérvia torna-se ainda mais violenta até nova intervenção militar da OTAN.

Em 24 de março de 1949, a aliança militar liderada pelos EUA iniciou uma campanha aérea de 78 dias para expulsar as forças sérvias do Kossovo. Desde então, a província é ocupada pela OTAN.

A independência do Kossovo é uma questão delicada porque a província ocupa um espaço especial no principal mito fundador do nacionalismo sérvio. Na Batalha do Kossovo, em 28 de junho de 1389, os turcos do Império Otomano derrotaram a Sérvia, que só iria recuperar sua independência em 1878. É uma derrota que os sérvios festejam até hoje.

No mesmo dia, em 1914, o estudante radical sérvio Gavrilo Princip assassinou em Sarajevo, então parte da Sérvia, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. Foi o estopim da Primeira Guerra Mundial.

O primeiro-ministro sérvio, Vojislav Kostunica, não receberá o enviado da ONU quando ele for a Belgrado. Martti Ahtisaari estará com o presidente Boris Tadic, que exerce funções protocolares mas não detém o poder real.

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