segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Chávez dá ajuda para ter influência na Nicarágua

A Venezuela deve anunciar nesta semana uma grande ajuda econômica e social à Nicarágua para garantir sua influência na América Central e continuar a 'guerrinha fria' do presidente Hugo Chávez contra os Estados Unidos.

Chávez deve anunciar na quinta-feira um conjunto de medidas para apoiar o governo Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro que está voltando ao poder depois de quase 17 anos. Ortega, de 61 anos, ganhou a eleição presidencial de novembro com 38% com uma série de promessas de ajuda aos pobres. Assume nesta quarta-feira. O presidente Lula é uma das grandes inspirações do dirigente da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que adotou o "Lulinha paz e amor" na campanha.

Em entrevista ao Financial Times, principal jornal econômico-financeiro da Europa, o embaixador venezuelano em Manágua, Miguel Gómez, falou em transformar a Nicarágua: "Nos próximos cinco anos, a Nicarágua sentirá os efeitos da verdadeira cooperação baseada na solidariedade, não do comércio e da especulação. Queremos infectar a América Latina com nosso modelo".

O embaixador não revelou o total da ajuda. Disse apenas que será ampla, incluindo os setores de agricultura, energia, construção, saúde e educação, descrevendo-a como "um impulso para o movimento esquerdista na América Latina".

Na parte de energia, a Nicarágua receberá 10 milhões de barris de petróleo em produtos refinados como gás ou gasolina, pagando 60% do preço a vista e os outros 40% em 25 anos, com dois anos de prazo de carência e juro de apenas 1% ao ano. Também haverá investimentos na infra-estrutura energética nicaragüense.

Outros projetos incluem a construção de uma estrada ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, e a construção de 200 mil moradias. A Venezuela estuda a possibilidade de construir um oleoduto entre o Atlântico e Pacífico para exportar para a China.

O financiamento virá do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (Bandes) da Venezuela, que deve abrir em breve uma agência na Nicarágua.

Antes das eleições, os EUA temiam que a vitória de Ortega traria o chavismo para a América Central. Mas o ex-guerrilheiro escolheu para vice um ex-comandante da contra-revolução que tentava derrubá-lo com o apoio dos EUA e com o ex-presidente Arnoldo Alemán, condenado por corrupção.

Para voltar ao poder, Ortega fez uma aliança com a direita, com os herdeiros políticos do ditador Anastazio Somoza, que derrubou em 1979. Aprendeu muito com Lula.

A questão é se a ajuda da Venezuela será capaz de influenciar o governo Ortega a ponto de alinhá-lo com o chavismo, que é antiliberal, anticapitalista e antiamericano. Meu palpite é que Ortega está para Lula do que para Chávez. Aceita a ajuda da Venezuela, importante para um país miserável como a Nicarágua. Mas não vai brigar com o mercado nem deve comprar brigas com os EUA.

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