terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Bush autoriza venda de tecnologia nuclear à Índia

O presidente George Walker Bush sancionou hoje um acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos entre os Estados Unidos e a Índia. A partir de agora, as empresas americanas poderão vender reatores e tecnologia nuclear à Índia pela primeira vez.

De uma geração nuclear atual de 3,5 mil megavates a Índia quer crescer para 60 mil em 2030, quando será uma grande potência mundial. A Índia é hoje um dos países que mais crescem no mundo. Deve superar a China em 2007, com aumento de 10% do PIB. Precisa de energia para manter este ritmo de desenvolvimento.

Mesmo que o acordo não inclua o uso militar da energia nuclear, é claro que os EUA querem fazer uma parceria estratégica com a Índia.

Depois da independência, a Índia adotou uma política externa antiimperialista e não-alinhada. Não se submetia nem ao bloco americano nem ao soviético durante a Guerra Fria, embora se alinhasse mais com a União Soviética, o que levou os EUA a se aliarem ao Paquistão, especialmente depois da invasão soviética ao Afeganistão.

Esta era a política histórica do Partido do Congresso, de Gandhi, do primeiro-ministro Jawarlal Nehru e sua filha e primeira-ministra Indira Gandhi.

O Partido Bharatiya Janata (BJP) nasceu em 1980 dentro do movimento nacionalista hindu, que esteve brevemente no poder (1977-80). Em 1988, o BJP chegou ao poder e governou até 2004, realizando, em maio de 1998, uma de suas promessas: realizar testes com armas nucleares.

Logo, o Paquistão fez o mesmo, mantendo um relativo equilíbrio de forças no Sul da Ásia. Mas o curioso, ou o que mostra como são as relações internacionais, é que imediatamente os EUA adotaram sanções contra os dois países por violarem o regime de não-proliferação nuclear. Nenhum dos dois assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Como país que foi colônia, a Índia rejeita o TNP por ser um tratado que dá tratamento desigual a potências nucleares e países não-nucleares. Só podem ter a bomba os países que já a tinham em 1968: EUA, Rússia (herdeira da URSS), Grã-Bretanha, França e China. Não é coincidência que sejam os cinco grandes com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Mas a Índia é um país de mais de 1 bilhão de habitantes, uma potência econômica emergente e tem a bomba atômica. Logo, os EUA começaram a negociar secretamente uma parceria com a Índia, que tem uma richa com a China, a superpotência emergente que talvez os EUA tentem conter algum dia. Precisarão de aliados para isso.

A Índia começou a fazer a bomba depois de ser derrotada pela China numa guerra de fronteiras, de 10 de outubro a 21 de novembro de 1962, com combates nas montanhas do Himalaia numa altitude de até 4.267 metros. Acredita-se que a Índia tenha a bomba desde 1974, num dos governos de Indira Gandhi, e o Paquistão, que recebeu ajuda da China, desde 1975.

Então a Índia é uma aliada em potencial dos EUA para contrabalançar o superpoderio chinês. Claro que a Índia se dá o direito de fazer aliançar com quem quiser. Mas hoje está mais próxima dos EUA do que de sua antiga aliada, a Rússia. Os indianos estão de olho no mercado americano, e as empresas americanas de olho na mão-de-obra altamente qualificada da Índia em engenharia, física e informática a um custo muito menor.

É um país com uma classe média ascendente de 250 milhões de pessoas, onde a língua mais falada é o inglês, tem a burocracia e o sistema jurídico no modelo britânico, o que lhe dá grandes vantagens comparativas no mundo globalizado.

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