quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Lula deve mudar política externa no segundo governo

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencer a eleição presidencial de domingo, como indicam todas as pesquisas, deve mudar sua política externa para se reaproximar dos países ricos, sobretudo dos Estados Unidos, afirma hoje em matéria de capa o jornal econômico Valor.

O embaixador Celso Amorim, que tem sido visto com freqüência nos palanques, deve ser mantido como ministro das Relações Exteriores. Mas o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência para questões internacionais, Marco Aurélio Garcia, considerados os ideólogos do antiamericanismo da atual política externa, devem ser "estrategicamente removidos para outros postos". Pinheiro Guimarães seria embaixador em Buenos Aires e Garcia provavelmente em Paris.

Para os críticos, um dos maiores problemas do governo Lula era ter três políticas externas ou três chanceleres. Enquanto Amorim cuidaria da orientação geral e das negociações multilaterais, da ONU e da Organização Mundial do Comércio, as relações no continente estariam a cargo de Pinheiro Guimarães e Garcia. Ambos foram chamuscados pela estatização do gás e do petróleo da Bolívia, com prejuízo bilionário para a Petrobrás. Pinheiro Guimarães foi à Bolívia negociar dias antes de 1º de maio, quando o governo boliviano nacionalizou o petróleo e o gás, e foi surpreendido com a ocupação militar das instalações da empresa brasileira.

Ao se opor à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), os "ideólogos" agradaram o Partido dos Trabalhadores mas provocaram um profundo descontentamento do setor empresarial, como lembra sempre o candidato oposicionista, Geraldo Alckmin, em debates e entrevistas. Afinal, os EUA são a maior economia do mundo. Na era da globalização, quase todos os países do mundo querem mais acesso ao mercado americano.

O empresariado brasileiro teme ficar isolado pela estratégia americana diante do fracasso da ALCA, de negociar acordos preferenciais de comércio bilaterais ou regionais com todos os países do continente menos Brasil, Argentina e Venezuela. Muitas empresas brasileiras estão instalando fábricas em países que têm maior acesso à maior economia do mundo.

A tendência no governo, diz a reportagem do Valor, de Raymundo Costa e Cristiano Romero, é mudar sem dizer que mudou.

O marco desta guinada seria a viagem aos EUA de uma missão empresarial liderada por Lula logo no início do segundo mandata, percorrendo os estados americanos importantes para as exportações brasileiras como a Califórnia, o mais rico de todos, e a Flórida, principal centro de distribuição das exportações brasileiras.

No discurso oficial do governo, a política de reduzir a dependência dos EUA e melhorar as relações com a Ásia, a África e a América Latina já deu resultado. Agora seria importante voltar-se para os países ricos, especialmente porque o Brasil corre o risco de ser excluído do Sistema Geral de Preferências dos EUA. Há deputados e senadores americanos importantes alegando que o Brasil não é mais um país em desenvolvimento, especialmente em agricultura. A participação brasileira precisa ser aprovada pelo Congresso dos EUA até o fim do ano.

Há outras questões importantes como o desenvolvimento de biocombustíveis num momento em que os EUA buscam desesperadamente reduzir sua dependência do petróleo. Quando Lula fala em transformar o Brasil numa superpotência energética, deve saber que o desenvolvimento do setor passa necessariamente pelo mercado americano.

Tem também a biotecnologia, a próxima revolução tecnológica, liderada pelos EUA, aliás como acontece com a atual, da informática, o que torna prematuras as previsões sobre o declínio americano. O Brasil tem o maior banco genético do mundo; os EUA têm a tecnologia. É um bom motivo para preservar a Amazônia gerando uma riqueza que a sustente. Interessa aos dois países e ao mundo inteiro.

No mundo globalizado, é preciso ser sócio dos EUA.

Outra implicação desta reaproximação com os EUA seria endurecer o jogo com presidentes antiamericanos como Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia. Lula reconhece que consegue conversar francamente com Chávez, mesmo quando discordam, mas considera Morales imprevisível.

Segundo o Valor, Lula e o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, teriam sido surpreendidos pela decisão do líder indígena boliviano de se aliar a Chávez e ao ditador cubano Fidel Castro, em vez de buscar a inserção da Bolívia no mundo globalizado através do Brasil e da Espanha.

Desta maneira, o Brasil cumpriria o papel de fiador da estabilidade da América do Sul, como é de interesse dos EUA, cujas intervenções políticas são quase sempre contraproducentes por causa da imagem imperalista da superpotência na região.

Um comentário:

CFagundes disse...

Dirceu: "Nâo acredito. Não vejo como o presidente Lula, que orientou, dirigiu e apoiou toda atuação do Itamaraty, possa agora mudar radicalmente sua visão sobre política externa. As derrotas do Brasil na Organização Mundial do Comércio, no Banco Interamericano de Desenvolvimento e mesmo na ONU não justificam nada. Elas eram previsíveis, ruim seria o Brasil não ter pleiteado esses cargos."
http://z001.ig.com.br/ig/45/51/932723/blig/blogdodirceu/2006_10.html#post_18671366