segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Política externa de Bush estimula o terrorismo, diz ex-presidente reformista do Irã

A política externa dos Estados Unidos está aumentando o terrorismo e a única maneira de resolver a questão nuclear iraniana é negociar, afirmou ontem o ex-presidente reformista do Irã Mohamed Khatami, em entrevista à rede de televisão americana CNN no início de uma visita de duas semanas aos EUA para lançar um livro em que prega o diálogo entre civilizações.

Khatami, um aiatolá reformista moderado eleito duas vezes com mais de 70% dos votos, tentou uma aproximação com os EUA, sem sucesso. Agora, tenta se distanciar de seu sucessor, o radical Mahmoud Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel: "Nunca disse que Israel deve ser varrido do mapa". Mas defende o Hesbolá e nega que o programa nuclear iraniano vise à fabricação da bomba atômica.

Seu recado a George W. Bush foi claro: "Os EUA, com todos os seus recursos, pode levar uma nova experiência, a criação e o avanço da democracia no Oriente Médio. (...) Com uma mudança de linguagem, de ameaça para o entendimento mútuo, os EUA podem ter uma posição melhor", pregou o conciliatório Khatami, desprezado por Washington quando presidia o Irã porque o governo americano acreditava que ele não tinha poder real na república dos aiatolás.

"Francamente, diria a ele que as políticas escolhidas pelos EUA criaram um sentimento errado em relação aos EUA e só aumentou, e só vai aumentar, o extremismo na região", criticou o ex-presidente do Irã. Ele argumenta que a invasão ao Iraque alimentou o ódio contra os americanos no Oriente Médio, levando mais voluntários a aderir a grupos terroristas.

Os EUA não mantêm relações diplomáticas com o Irã desde que guardas revolucionários iranianos invadiram a Embaixada Americana em Teerã, em 1979, depois da Revolução Iraniana, e a ocuparam por 444 dias. Isto foi decisivo para a derrota do presidente Jimmy Carter e a ascensão de Ronald Reagan à Casa Branca na eleição de 1980, no início da contra-revolução conservadora que redesenhou o mapa político americano.

As relações não melhoraram sob Khatami. Houve no máximo uma trégua. Em 2001, depois dos atentados de 11 de setembro, os EUA invadiram o Afeganistão, vizinho do Irã, inquietando a república dos aiatolás, que era inimiga do regime dos Talebã.

Em janeiro de 2002, Bush colocou o Irã no "eixo do mal", ao lado do Iraque e da Coréia do Norte. Em 20 de março de 2003, os americanos invadiram o Iraque, outro vizinho do Irã. Aumentou, entre os aiatolás, a sensação de estarem cercados pelos EUA. Isto radicalizou o regime e aumentou a perseguição aos dissidentes, reformistas e liberais.

Nas eleições parlamentares de 2004, o regime vetou 2,5 mil candidatos. Na eleição presidencial do ano passado, mil candidatos foram vetados. Acabou ganhando um azarão, o prefeito ultra-radical de Teerã, Mahmoud, Ahmadinejad, que não é do círculo íntimo do regime e por isso tenta se afirmar usando uma linguagem radical. Ele ganhou com uma proposta de garantir uma renda mínima de US$ 55 mensais, muito bem recebida nas zonas rurais pobres do interior do país.

Khatami foi uma oportunidade perdida pelos EUA. Agora, ele teme um ataque dizendo apenas "ter esperança de que não aconteça": "Francamente, os EUA já causaram tantos problemas ao Iraque".

Ele fez um apelo aos líderes muçulmanos do mundo inteiro para que mostrem "a verdadeira face do Islã", de "paz e igualdade".

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