sábado, 2 de setembro de 2006

Oposição de esquerda impede presidente Vicente Fox de discursar no Congresso do México

A oposição esquerdista impediu agora à noite o presidente Vicente Fox de fazer seu último discurso de prestação de contas ao Congresso do México. Os partidários de Andrés Manuel López Obrador, candidato derrotado por apenas 240 mil votos nas eleições presidenciais de 2 de julho passado, denunciam fraude na apuração dos votos e acusam Fox de traição.

Antes da chegada do presidente, os 126 deputados do Partido da Revolução Democrática (PRD) ocuparam a tribuna e os corredores de acesso, bloqueando a passagem de Vicente Fox, que foi obrigado a discursar de sua residência oficial pela televisão.

"Não é um agravo à minha pessoa mas à Presidência e à sociedade", declarou Fox. "O México precisa de prudência, não de estridência" e que "prevaleça a razão e não a cerração", acrescentou.

Mais adiante, afirmou: "No México democrático, o motor da transformação é o voto da cidadania. (...) Não se pode encurralar a democracia por meio da intransigência e da violência".

Na semana passada, a Justiça Eleitoral do México negou o pedido de López Obrador para uma recontagem total dos votos. A recontagem parcial manteve a vitória de Felipe Calderón, do Partido de Ação Nacional (PAN), o mesmo de Fox, do qual foi ministro.

O protesto desta noite indica que López Obrador deve manter sua campanha de protesto, que inclui uma vigília e o bloqueio da principal avenida da Cidade do México. Até 6 de setembro, a Justiça Eleitoral precisa declarar um vencedor ou convocar novas eleições.

Mas o mais estranho, e a principal evidência de que o México mudou, é que é possível escrever sobre a política mexicana sem citar o Partido Revolucionário Institucional (PRI), que teve o monopólio do poder desde que foi criado, em 1929, pelo presidente Lázaro Cárdenas, até o ano 2000. Nestas eleições, o PRI ficou em terceiro lugar e caiu para terceira maior bancada no Congresso pela primeira vez.

Agora, para o México se tornar uma democracia é preciso que as eleições sejam realmente limpas e que os resultados sejam respeitados. Não estou dizendo que estas eleições foram fraudadas mas a História do México registra sérios antecedentes. Em 1988, Cuautémoc Cárdenas, filho do presidente Lázaro Cárdenas, liderava a apuração, depois de criar o PRD, uma dissidência do PRI. O sistema de computadores entrou em pane. Quando voltou a funcionar, o candidato oficial, Carlos Salinas de Gortari, do PRI assumiu a liderança e ganhou a eleição.

Nenhum comentário: