quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Irã cassa ONG de ganhadora do Nobel da Paz

O regime fundamentalista do Irã tornou ilegal este mês o Centro de Defesa dos Direitos Humanos dirigido pela advogada Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2003. Em entrevista à edição online da revista alemã Der Spiegel, ela denuncia perseguição política. O centro defende presos políticos de graça.

"A Constituição garante que as organizações sociais são livres para realizar suas atividades, desde que não promova a desordem nem traia as leis do Islã", declarou Shirin Ebadi. "Liberdade significa não ter de pedir permissão. Portanto, uma ONG [organização não-governamental] como a nossa, que trabalha pelos direitos humanos, não precisa de aprovação governamental."

Mesmo assim, como o governo iraniano insiste para que todas as ONGs se registrem, há quatro anos o CDDH pediu licença à república islâmica. Agora a permissão foi negada.

"Enquanto a permissão estava pendente, nunca pensei duas vezes sobre minhas ações. Tudo o que fiz foi legal", desabafa a ganhadora do Nobel da Paz. "Não perturbamos a paz e não somos antiislâmicos. Durante quatro anos, parecia que éramos legais. Não sei como de repente viramos uma organização ilegal. Um dia de manhã li no jornal uma nota do Ministério do Interior dizendo que o CDDH era ilegal. Tive de ler no jornal. Até hoje não fui avisada oficialmente".

Desde que ganhou o Nobel, Shirin Ebadi foi processada três vezes por subversão: "Há quem pense que o Prêmio Nobel me deu uma chave de ouro que permite que eu abra as portas de todas as prisões políticas. Quando explico que desde que ganhou o Nobel fui levada três vezes aos tribunais e acusada de subversão, e que minha ONG está sendo banida, bem, então as pessoas têm um retrato mais acurado da situação. Elas sabem que nunca fiz parte do governo, não tenho poder executivo. Meu único poder vem da voz e da caneta, com as quais escrevo e falo."

Ela espera o apoio do Ocidente para quem luta pela liberdade no Irã mas não sob a forma de ação militar ou outros tipos de punição que só fortaleceriam a linha dura dos aiatolás contra a oposição reformista e os defensores dos direitos humanos.

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