sábado, 8 de julho de 2006

EUA admitem negociar com a Coréia do Norte

O presidente George Walker Bush nega-se a iniciar negociações diretas com a Coréia do Norte. Mas deixa uma porta entreaberta, ao exigir que a Coréia do Norte volte a participar das negociações sobre seu programa nuclear com os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão e a Coréia do Sul.

A Coréia do Norte desafiou os EUA ao testar seis mísseis em 4 de julho, Dia da Independência dos EUA, sendo um deles capaz de atingir o território americano. O Taepodong-2, com alcance de até 6 mil quilômetros, falhou espetacularmente 40 segundos após o lançamento, indicando que o regime comunista de Pionguiangue precisará de mais alguns anos para ter um míssil de longo alcance confiável. Mas a mensagem subliminar foi clara: quer negociar diretamente com Washington.

Imediatamente o Japão, que seria um dos alvos prioritários dos mísseis de médio alcance, exigiu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adote sanções contra o governo norte-coreano. Mas China e Rússia, duas potências com direito de veto, resistem à aplicação de sanções, alegando que agravariam ainda mais a crise.

Enquanto joga duro publicamente, os EUA oferecem através do enviado especial Christopher Hill a possibilidade de negociações diretas, se a Coréia do Norte retomar as negociações com seus vizinhos e as potências regionais. Pionguiangue rompeu o diálogo em novembro, quando os EUA começaram a reprimir as atividades financeiras ilegais do regime norte-coreano, acusado de falsificar dólares.

Chegou hoje ao Japão o navio contratorpedeiro americano USS Mustin, capaz de destruir mísseis. Agora os EUA têm na região oito navios dotados do sistema de defesa antimísseis Aegis, nome do escudo de Zeus, o deus da mitologia grega. Mas claramente adotaram uma postura defensiva.

A crise norte-coreana será abordada pela via diplomática. Nenhum dos países da região tem interesse numa guerra, notadamente a Coréia do Sul, que poderia ter sua capital arrasada pelas forças convencionais da Coréia do Norte, e a China, uma superpotência econômica que não quer problemas político-militares atrapalhando seu extraordinário crescimento econômicos nem o pesadelo de milhões de norte-coreanos buscando refúgio em seu território.

Uma guerra provavelmente levaria ao colapso o debilitado regime norte-coreano, o que obrigaria a Coréia do Sul a assumir a responsabilidade por uma reunificação forçada. A julgar pelos problemas que a Alemanha, muito mais rica, enfrenta 16 anos depois de sua reunificação, os sul-coreanos não têm pressa. Preferem que o regime stalinista norte-coreanos adote reformas econômicas no estilo chinês para se recuperar antes da reunificação do país.

Por outro lado, se a Coréia do Norte desenvolver mísseis e armas nucleares, o Japão será tentado a reformar sua Constituição pacifista e a criar seu próprio dispositivo nuclear. Isto não interessa aos EUA, que jogaram duas bombas atômicas no Japão em 1945, nem à China, inimiga dos japoneses na Segunda Guerra Mundial, nem à Rússia, derrotada pelo Japão na Guerra do Pacífico asiática (1904-05).

Além disso, os EUA e a China são hoje as economias mais importantes do mundo, cada vez mais interdependentes. Então não interessa ao mundo que uma nova guerra na Coréia perturbe o delicado equilíbrio entre estes dois gigantes.

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