domingo, 11 de junho de 2006

Lavagna desponta como adversário de Kirchner na eleição presidencial de 2007 na Argentina

O ex-ministro da Economia Roberto Lavagna surge como o principal candidato capaz de desafiar o presidente Néstor Kirchner, que disputará a reeleição em 2007 na Argentina.

Lavagna renegociou a dívida argentina com desconto de até 75% depois da moratória decretada por força do colapso da paridade dólar-peso em dezembro de 2001. Foi um dos maiores feitos do governo Kirchner, que permitiu à Argentina retomar seu crescimento, acima de 9% no ano passado, e voltar ao mercado.

Mas não era homem de Kirchner. Vinha do governo transitório de Eduardo Duhalde, que por sinal foi quem lançou Kirchner como candidato da esquerda peronista contra o ex-presidente Carlos Menem em 2003.

Depois das eleições parlamentares de outubro do ano passado, Kirchner promoveu uma reforma ministerial para se impor. Lavagna era uma figura proeminente demais para o caudilho da Patagônia.

Agora, acusa o governo de "querer enterrar minha candidatura em 90 dias, usando todos os meios possíveis. É o antipluralismo", protestou Lavagna sexta-feira em entrevista ao jornal argentino La Nación.

O ex-ministro se apresenta como um "progressista de centro" interessado em aumentar o papel do setor privado na economia do país. Ele adverte contra a influência de uma Venezuela "socialista" e "não-democrática" no Mercosul, defendeu a reprivatização da maior companhia de abastecimento de água da Argentina e criticou o congelamento de preços, que dura quatro anos.

"Não estou começando do zero. Exerci um mandato por quatro anos", declarou Lavagna em entrevista em Buenos Aires, tentando reafirmar suas credencias de principal renegociador da dívida argentina depois da moratória.

A candidatura Lavagna divide o segundo maior partido argentino, a União Cívica Radical, fortemente abalada pelo fracasso dos governos Raúl Alfonsín e Fernando de la Rúa, que não concluíram seus mandatos. Enquanto a ala mais à esquerda, liderada por Alfonsín, quer consolidar uma candidatura anti-Kirchner, seis governadores e mais de 20 prefeitos preferem aderir ao kirchnerismo.

O comitê federal da UCR reúne-se no dia 22 para tomar uma decisão. A ala alfonsinista espera articular o apoio dos comitês de 16 a 18 das 22 províncias argentinas. Isto abriria caminho para confirmar o apoio a Lavagna na convenção nacional do partido, em agosto. Os presidentes da UCR nas províncias de Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e Jujuy já estão com Lavagna.

Ao mesmo tempo, os radicais a favor da candidatura do ex-ministro da Economia discutem com os duhaldistas a plataforma do candidato anti-Kirchner.

Com sua pregação privatista, Lavagna criticou Kirchner por encampar a companhia de abastecimento de água da região metropolitana de Buenos Aires. O governo rompeu o contrato com a empresa Aguas Argentinas, uma sociedade da Suez, da França, com as Aguas de Barcelona, da Espanha, após uma longa queda-de-braço em torno do congelamento das tarifas.

Lavagna considerou ineficiente a estratégia do governo de negociar acordos de preços com o setor privado, de proibir as exportações de carne para evitar desabastecimento ou alta de preços no mercado interno, de basear a luta contra a inflação em medidas pontuais e na desvalorização competitiva do peso.

"Toda a capacidade estatal para investimentos e administração dever ser alocada para a produção de bens sociais como saúde, educação e segurança, e não para grandes obras hídricas", ironizou o ex-ministro que renegociou a dívida argentina. "Isto não significa que eu esteja defendendo a Suez, que cometeu alguns grandes erros. Quero contratos claros."

Ele disse ainda que na renegociação dos preços do gás natural boliviano estatizado pelo presidente Evo Morales, a Bolívia deverá receber três vezes do que os produtores argentinos.

Para controlar a inflação argentina, hoje em 11,6% ao ano, Lavagna propõe medidas para estimular a concorrência e aumentar a produtividade, controle nos aumentos salariais e uma política fiscal mais ativista.

Quanto ao Mercosul, alertou que o ingresso da Venezuela "alterará o equilíbrio interno" e comprometerá ainda mais a imagem do bloco - uma instituição voltada para o mercado e a democracia: "Por quê? Porque Chávez afirmou que deseja uma economia socialista e também disse estar disposto a promover todas as reformas constitucionais necessárias para ficar no poder".

Lavagna foi demitido depois de um "triunfo eleitoral tão grande que interpretou-se que o governo teria liberdade para adotar uma política mais orientada à esquerda, voltada para o intervencionismo".

Ele negou que pretenda se aliar a direitistas como o empresário Mauricio Macri e o ex-ministro da Fazenda Ricardo López-Murphy: "Pertenço ao centro progressista. Nada tenho a ver com a direita. Sou favorável a uma coligação progressista e isso impõe limites. Não é possível aglutinar forças a qualquer preço porque assim não é possível governar".

O ex-presidente Menem confirmou a La Nación que será candidato em 2007: "Estou lançado há algum tempo."

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