quinta-feira, 29 de junho de 2006

Espanha abre negociações com o ETA

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou hoje a abertura de negociações de paz com o grupo terrorista ETA (Euskadi Ta Askatasuna, País Basco e Liberdade), que luta pela independência do país basco. A oposição conservadora criticou a medida, declarando ser impossível negociar com terroristas.

“Com base na resolução adotada pelo Congresso em maio de 2005, quer anunciar que o governo vai iniciar um diálogo com o ETA mantendo o princípio irrenunciável de que as questões políticas só podem ser resolvidas pelos legítimos representantes da vontade popular", declarou Rodríguez Zapatero ao parlamento na tarde desta quinta-feira. Ele admitiu que a paz terá um preço político e prestou homenagem às 817 vítimas da violência do ETA nas últimas quatro décadas e aos governos anteriores que tentaram "com boa fé" conquistar a paz no país basco.

Mesmo que o cessar-fogo só tinha sido declarado oficialmente pelo grupo separatista basco em 23 de março, há três anos não há atentados mortais do ETA, acrescentou o chefe do governo espanhol.

Neste período, foi cometido o pior atentado terrorista da História da Espanha. Em 11 de março de 2004, um ataque coordenado contra trens e estações de trem e de metrô em Madri matou 199 pessoas. O governo conservador do então primeiro-ministro José María Aznar tentou atribuir a ação ao ETA. Na verdade, era uma retaliação d'al Caeda por causa da participação espanhola na invasão do Iraque.

Quando o eleitorado percebeu a manipulação da informação pelo governo Aznar às vésperas das eleições nacionais, deu a vitória ao Partido Socialista Operário Espanhol, de Rodríguez Zapatero.

Ao mesmo tempo, o atentado foi tão brutal que tirou a legitimidade das ações violentas do ETA.

O chefe de governo previu que o processo de paz será "longo, duro e difícil" mas prometeu "prudência, unidade e lealdade"

Numa concessão à oposição conservadora, o governo manterá em vigor a Lei dos Partidos, que dá cobertura legal para que o Batasuna, partido político do ETA, continue na ilegalide.

Rodríguez Zapatero prometeu que o governo respeitará "as decisões que as formações políticas e a sociedade basca adotem livremente, respeitando as normais e os procedimentos legais, os métodos democráticos, os direitos e liberdades dos cidadãos, na ausência de todo tipo de violência e coação".

Em setembro, o primeiro-ministro vai se reunir outra vez com o ministro do Interior e os representantes dos diferentes partidos, como faz esta manhã. Então será definido o cronograma para o processo de paz iniciado hoje.

Com o cessar-fogo da ETA e nenhum novo ataque dos fundamentalistas muçulmanos, o terrorismo caiu para quinto lugar entre as maiores preocupações dos espanhóis, atrás do desemprego (49%), da imigração (46,3%), da insegurança pública (27,9%), e da moradia (27,4%). Em pesquisa feita em maio pelo Centro de Investigações Sociológicas, só foi mencionado por 19,6% dos entrevistados.

2 comentários:

CFagundes disse...

Nelson, uma notícia da EFE diz que centenas de manifestantes se concentraram na frente do parlamento para protestar contra as negociações de paz. A manifestação foi organizada pela AVT "Asociación de Víctimas del Terrorismo" e pela "Rosas blancas por la dignidad". Qual é a expressividade das organizações, são ligados aos conservadores?

Nelson Franco Jobim disse...

Estão alinhadas com o pensamento conservador, embora a Associação das Vítimas do Terrorismo abrigue pessoas de diferentes posições políticas. Mas não há alternativa a esta guerra que não uma negociação de paz para encontrar uma solução política. E a paz se negocia com o inimigo.