terça-feira, 13 de junho de 2006

Croácia nasceu de violenta guerra

A Croácia, que enfrenta hoje o Brasil pela Copa do Mundo, é um jovem país nascido das guerras que destruíram a antiga Iugoslávia, criada pelo marechal Josip broz Tito, líder comunista e da resistência antinazista na Segunda Guerra Mundial. Com 4,5 milhões de habitantes e produto interno bruto de US$ 55 bilhões, é um dos países mais jovens do mundo.

Sua independência foi conquistada a ferro e fogo, em 1991. Por isto, o terceiro lugar na Copa de 1998 foi tão festejado. Era uma afirmação da nacionalidade. Mas o nacionalismo croata chegou a ter um caráter fascistóide por causa da guerra e da rivalidade histórica com a Sérvia.

Tito, um croata, conseguiu criar uma federação de seus repúblicas (Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Montenegro e Macedônia) reprimindo os nacionalismos em nome do internacionalismo socialista. Desde sua morte, em 1980, esperava-se a desintegração da Iugoslávia.

Ela viria com o colapso do comunismo, que abriu caminho para o ressurgimento do nacionalismo nos Bálcãs com a mesma virulência que deflagara a Primeira Guerra Mundial. O principal responsável foi o ditador sérvio Slobodan Milosevic, que assumiu o controle do Partido Comunista da Iugoslávia em 1986.

Com o declínio da ideologia comunista, já em 1987 Milosevic começou a fomentar o nacionalismo sérvio como forma de consolidar seu poder. Num famoso discurso na província sérvia do Kossovo, de maioria albanesa, ele afirmou que “os sérvios não mais se curvariam”.

Foi o sinal para desatar os nacionalismos longamente reprimidos. A Sérvia, a mais forte das repúblicas iugoslavas, começava a mostrar suas garras. Ivan Stambolic, o líder comunista que Milosevic derrubara, diz que naquele dia a Iugoslávia acabou.

Milosevic presidiu a Sérvia de 1989 a 1997 e o que restou da Iugoslávia de 1997 a 5 de outubro de 2000, quando foi derrubado por uma revolução. Neste período, foi o anti-Tito, presidindo à dissolução sangrenta da Iugoslávia.

Em março de 1991, quando a população sérvia saiu às ruas para protestar contra a falta de democracia e de liberdade de expressão, Milosevic fomentou uma revolta da maioria sérvia na província croata da Krajina. Lá começaram as guerras que destruíram a Iugoslávia e terminou a luta pela independência da Croácia.

Os sérvios eram maioria na Krajina, onde se refugiaram depois de sua histórica derrota para o Império Otomano na Batalha do Kossovo, em 28 de junho de 1389, que eles comemoram até hoje, como um marco da nacionalidade e um símbolo da vitimização histórica.

Nesta mesma data, em 1914, um estudante radical sérvio, Gavrilo Princip, matou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, nas ruas de Sarajevo, deflagrando a Primeira Guerra Mundial.

A Croácia e a Eslovênia foram as duas primeiras repúblicas iugoslavas a proclamar sua independência, em 25 de junho de 1991, com base na Constituição da Iugoslávia de 1974, que lhes garantia este direito. Se o Exército Federal da Iugoslávia reagiu primeiro na Eslovênia, a guerra foi rápida porque não havia uma população sérvia significativa.

Na Croácia, além da maioria sérvia na Krajina, havia uma presença sérvia na Eslavônia Oriental, junto à fronteira Leste, com a Sérvia. A guerra foi particularmente brutal na cidade de Vukovar, com atuação de esquadrões da morte sérvios e do notório terrorista Zeljko Raznatovic, conhecido como Arkan.

Em dezembro de 1991, depois da reunião de cúpula que criou a União Européia em Maastricht, na Holanda, a Alemanha, tradicional aliada da Croácia, rompeu com a recém-criada política externa comum européia. Decidiu reconhecer as independências da Croácia e da Eslovênia. Isto transformaria a guerra na Croácia numa questão internacional e não numa guerra civil, permitindo a intervenção de organizações internacionais.

Ao mesmo tempo, provocou a realização de um plebiscito na vizinha Bósnia-Herzegovina, a mais multiétnica das repúblicas iugoslavas, com 44% de muçulmanos, 31% de sérvios e 25% de croatas. A guerra da Bósnia foi a mais sangrenta na Europa desde 1945. O conflito começou logo depois da independência, aprovada em 1º de março de 1992.

Com a superioridade militar sérvia, Sarajevo foi sitiada e bombardeada durante anos. A política externa européia mostrou-se impotente e o presidente dos Estados Unidos, George Bush, pai, não queria se envolver em guerras na Europa no ano em que disputava a reeleição. Na geopolítica pós-Guerra Fria, a solução de conflitos na Europa cabia à UE.

Mas a UE se mostrou impotente e o presidente Bill Clinton percebeu que só os EUA poderiam acabar com o conflito. Os EUA armaram e treinaram o Exército da Croácia, violando o embargo das Nações Unidas que proibia a venda de armas para as ex-repúblicas iugoslavas, o que na verdade cristalizava a supremacia sérvia.

Foi uma ofensiva croata para retomar a Krajina, em agosto de 1995, que quebrou o mito da invencibilidade sérvia e criou um equilíbrio de forças no campo de batalha que levou os presidentes da Sérvia, Milosevic; da Croácia, Franjo Tudjman; e da Bósnia-Herzegovina, Alija Izetbegovic, a negociar o acordo de paz de Dayton, Ohio, em novembro de 1995, sob pressão dos EUA, da UE e da Rússia.

Uma nova guerra se iniciaria com o surgimento, em junho de 1996, do Exército de Libertação do Kossovo para lutar contra a dominação sérvia sobre a maioria albanesa. A violenta repressão ordenada por Milosevic levou à Guerra do Kossovo.

Por 78 dias, a partir de 24 de março de 1999, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, que interviera na Guerra da Bósnia, bombardeou a Iugoslávia (agora formada apenas pela Sérvia e Montenegro), até a rendição de Milosevic, que seria deposto no ano seguinte e entregue ao Tribunal de Crimes de Guerra para a Iugoslávia, em Haia, na Holanda, onde morreu em 11 de março de 2006.

Dos 161 réus processados pelo tribunal, a grande maioria é sérvia. Mas há também diversos croatas. A Sérvia reclama que a retomada da Krajina, onde viviam cerca de 200 mil sérvios, foi a maior operação de “limpeza” étnica das guerras que destruíram a Iugoslávia. Em quatro dias, atesta o tribunal de Haia, 150 a 200 mil sérvios fugiram da Croácia.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

Nelson

A seleçinha( no diminutivo mesmo)venceu mas não convenceu. É duro ver o Galvão Bueno falando que o jogo contra Croácia estava duríssimo. Uma seleção fraca feito essa.

Um abraço

Marco Aurélio