terça-feira, 14 de março de 2006

Política econômica de Kirchner produz distorções microeconômicas

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, intervém ativamente na economia na busca de melhorar a competitividade, estimular o crescimento econômico e a geração de empregos. Em 2005, o país cresceu a uma taxa recorde de 9,3% com uma inflação acima de dois dígitos. Ao afastar o ministro da Economia, Roberto Lavagna, que renegociara a dívida argentina com deságio, depois das eleições legislativas de outubro, Kirchner indicou claramente que assumiria o controle total da economia tendo em vista sua reeleição em 2007. Mas seu intervencionismo provoca distorções microeconômicas que prejudicam a eficiente alocação de recursos, observa o economista Miguel Angel Broda.

A política macroeconômica da Argentina no governo Néstor Kirchner se apóia em três pilares fundamentais, constata Broda:
• uma política monetária subordinada a uma política cambial destinada a manter o peso depreciado e a acumular reservas;
• uma política fiscal de forte crescimento do gasto público com objetivos políticos num contexto de alto superávit fiscal com 20% dos impostos provenientes da arrecadação de impostos que distorcem as atividades econômicas; e
• uma forte intervenção estatal na economia que maximiza os objetivos de curto prazo e minimiza os de longo prazo.

O primeiro pilar pressupõe que uma moeda subvalorizada aumenta as exportações, contribui para o crescimento e a geração de empregos. Para sustentar o dólar em torno de 3 pesos, o Estado participa ativamente do mercado de câmbio por meio de uma “flutuação suja”. O Banco Central da República Argentina emite moeda para comprar o excesso de dólares e o Tesouro faz o mesmo com o superávit fiscal.

Esta política de forte compra de divisas pelo setor público visa a manter o dólar alto e estável, manter juros baixos para estimular o investimento e o consumo, e controlar a oferta de dinheiro e a taxa de inflação.

Com o crescente intervencionismo estatal, há preços fixados de maneira discricionária, subsídios para congelar preços e uso da política comercial para combater a inflação, de 12,3% em 2005. Isto gera uma série de distorções microeconômicas invisíveis a princípio mas que produz efeitos negativos sérios sobre a alocação de recursos eficiente.

Para Broda, se houver uma queda da demanda por dinheiro, que está em nível recorde, será difícil manter o peso apreciado junto com uma política monetária que funcione como âncora antiinflacionária. O economista entende que o Banco Central deve melhorar o rendimento dos depósitos em pesos.

Hoje a Argentina mantém uma política monetária expansiva. Mas se a heterodoxia kirchnerista quer manter o peso subvalorizado e estável num contexto de inflação alta, precisa aumentar as taxas de juros, segundo Broda hoje as mais negativas do mundo o que contraria os objetivos de Kirchner na luta pela reeleição em 2007.

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